Grito em Silêncio

              Eu não quero chorar. A dor é muito forte. Meus olhos estão cheios de lágrimas, mas meu orgulho impede que cada lágrima caia, fazendo-as secar. Toda a dor e mágoa que iria transbordar volta para meu interior e como facadas marcam minha alma. O que mais quero é gritar com a dor que sinto. Mas tenho que ser forte, evitar que tudo e todos vejam meu sofrer. Evitar que eu veja meu sofrer. "Eu não posso sofrer, não posso chorar, só posso ficar bem!"
              O que eu mais quero é colo. Quero correr pros braços de alguém e agradecer pela força e pelo refúgio, dizer: "obrigado mãe" ou "obrigado pai". Mas sei que isso é impossível. Sei que coisas que tanto quero as vezes são impossíveis. Que os maiores desejos que tenho não necessitam só de mim.
              Sei que nem tudo é como eu quero. Sei que ficar olhando pra trás machuca e faz doer mais. Mas é meu passado, lamentoso, que formou o meu presente. E meu presente nada mais é que um personagem hipócrita.
              Se houvesse como escolher, eu escolheria morrer agora. Escolheria ser levado. Ficar num sono profundo e jamais acordar.
              Eu sinto muita dor. Uma dor estranha, que não tem como explicar. Ela começa no meio do peito, passando por minhas veias e artérias espalha-se pelo meu corpo a me agonizar, a me torturar, a me mutilar e a me matar. Grito em silêncio por amparo. Mas quem escuta?
              Em meu quarto continuo só e a porta fechada, sem ninguém para abrir. Quase não tem mais luz. O tempo passa e o escuro toma posse. Tenho medo desse escuro. Tenho medo da morte. Tenho medo de ficar só e viver somente com uma maldita esperança que alimenta essa dor em mim.